quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM: possíveis intervenções psicopedagógicas na busca do desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem

Elizamar Gomes da Silva Souza

Leiliane Pinho de Santana

Orientado pela professora MS. Joana Gláucia dos Santos



Resumo

Este artigo trata-se de assuntos sobre o processo ensino aprendizagem através do olhar psicopedagógico e tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre aspectos relativos às dificuldades de aprendizagem, bem como a importância da psicopedagogia em estabelecer diretrizes para a resolução dessas dificuldades e possíveis responsabilidades do educador em proporcionar o bom desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: dificuldade de aprendizagem; processo ensino-aprendizagem; psicopedagogia.


1 Introdução

Este texto apresenta aspectos relativos à dificuldade de aprendizagem, e busca através da psicopedagogia verificar as possíveis intervenções para melhorar o processo ensino aprendizagem, e quem sabe poder tornar a aprendizagem mais significativa e prazerosa.
No primeiro semestre do ano de 2009, cursando o 5º período do curso de pedagogia, em campo de estágio desenvolvendo a prática pedagógica como orientadora educacional, deparou-se com situações em que foi possível detectar vários alunos com “problemas de aprendizagem”. Estes alunos possuem padrões de desenvolvimento inferior ao esperado. Com um ritmo diferenciado, possuem um raciocínio lógico matemático lento, dificuldade na leitura e escrita e pouco entrosamento com os colegas, demonstrando ás vezes comportamentos agressivos e falta de concentração nas atividades propostas. ¬¬¬ Estes alunos muitas vezes são rotulados como alunos difíceis, preguiçosos, rebeldes e que só pensam em brincar.
Por isso, achou-se importante buscar auxilio através de bibliografias como: Piaget (1976), Fernandez (2001) Scoz (1998) dentre outros, na intenção de tentar promover alternativas para melhorar o problema que tanto nos aflige enquanto educadores, com a intervenção de uma ação psicopedagógica sobre o problema de aprendizagem. Pois, as normas e regulamentos escolares muitas vezes apresentam critérios tão rígidos que acabam criando situações que afetam ainda mais os resultados.
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2 Dificuldade de aprendizagem: o que é, e como intervir

Há vários modos de conceituar as dificuldades de aprendizagens na literatura que às vezes caracteriza argumentos contraditórios. Mas apesar do conceito de dificuldade de aprendizagem apresentar diversas definições é necessário tentar determinar por que se faz referência a tal expressão diagnóstica.
De maneira simples pode se dizer que aprendizagem é o processo natural e espontâneo do ser humano construir o conhecimento. Seja, na família, na escola ou no meio social, a criança está sempre desenvolvendo um processo de complexa atividade mental, em que estão envolvidos o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, e a motricidade fazendo com que a criança sinta o prazer em aprender.
Fernández (2001) relata que todo sujeito tem sua modalidade de aprendizagem e os seus meios para construir o próprio conhecimento, e isso significa uma maneira muito pessoal para se dirigir e construir o saber. Dessa forma entende-se que cada indivíduo tem sua modalidade de aprendizagem e que o processo de aquisição do conhecimento é individual. Portanto, o indivíduo deve ser apenas motivado para que o processo ensino aprendizagem se torne agradável.
Já Piaget (1976) busca subsídios sobre o equilíbrio cognitivo para desenvolver uma caracterização do processo de aprendizagem. Ele afirma que a aprendizagem é um processo necessariamente equilibrante, pois faz com que o sistema cognitivo busque novas formas de interpretar e compreender a realidade enquanto o aluno aprende.
A aprendizagem é um fruto da história de cada sujeito e das relações que ele consegue estabelecer com o conhecimento ao longo da vida, afirma Bossa (2000).
Porém, quando se fala em aprendizagem, não se deve relacionar o problema simplesmente com o aluno, pois, a aprendizagem não é um processo individual, ou seja, não depende só do esforço de quem aprende, mas sim de um processo coletivo. Por isso, deve ser levada em consideração a realidade interna e externa, procurando compreender de forma global e integrada os processo cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos tornando a aprendizagem mais prazerosa.
Fernández (2001) mostra a importância da família, que por sua vez, também é responsável pela aprendizagem da criança, já que os pais são os primeiros ensinantes e os mesmos determinam algumas modalidades de aprendizagem dos filhos.
As dificuldades de aprendizagem na escola podem ser consideradas uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso escolar. Alicia Fernández diferencia fracasso escolar, problema de aprendizagem e deficiência mental. Para ela no fracasso escolar “a criança não tem um problema de aprendizagem, mas eu, como docente, tenho um problema de ensino com ele”. (FERNANDEZ, 1994). Portanto, não se pode desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar, pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades cotidianas, construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos.
O aluno, ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade, etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento por vontade própria.
3 Possíveis intervenções psicopedagógicas no processo ensino aprendizagem
É importante que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se são momentâneas ou se persistem há algum tempo.
As dificuldades podem advir de fatores orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que sejam descobertas a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que também desmotivam o aprendizado.
Segundo Jussara de Barros, graduada em pedagogia, (equipe Brasil Escola) uma das dificuldades mais conhecidas e que vem tendo grande repercussão na atualidade é a dislexia, porém, a mesma alerta que é necessário está atentos a outros sérios problemas como: disgrafia, discalculia, dislalia, disortografia e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e que docentes podem ser os mais importantes no processo de identificação e descoberta desses problemas, que são diversos. Haverá uns alunos que necessitam de intervenção psicológica ou psicopedagógica, e até mesmo aquele que o problema pode ser resolvido dentro do contexto escolar, por meio de programas individualizados de ensino e práticas pedagógicas diferenciadas. Porém, os professores não possuem formação específica para fazer tais diagnósticos, que devem ser feitos por médicos, psicólogos e psicopedagogos. O papel do professor se restringe em observar o aluno e auxiliar o seu processo de aprendizagem, tornando as aulas mais motivadas e dinâmicas, não rotulando o aluno, mas dando-lhe a oportunidade de descobrir suas potencialidades.
É importante fazer uma reflexão sobre a forma de agir diante das dificuldades de aprendizagem dos alunos, pois normalmente o que chama mais atenção são as dificuldades, mas é interessante que o professor observe estas crianças evidenciando seus acertos ainda que poucos, mas observar os progressos pode ser um bom caminho para a construção de um vínculo positivo com as demais áreas de aprendizagem que a criança precisa aprimorar.
Conforme Freinet (2002, p. 14) “A interação entre o mestre e o estudante é essencial para a aprendizagem, e o mestre consegue essa sintonia, levando em consideração o conhecimento das crianças, fruto de seu meio”. Por isso é importante que a escola valorize os muitos saberes do aluno e auxilie no processo ensino-aprendizagem oportunizando a ele demonstrar suas reais potencialidades.
Planejar uma aula que seja possível o trabalho em grupo pode ser uma boa sugestão para trabalhar com os alunos com dificuldade de aprendizagem, pois as crianças e adolescente “falam a mesma língua” e podem funcionar como professores uns dos outros. O educador enquanto mediador do processo ensino-aprendizagem, bem como protagonista na resolução e estudo das dificuldades de aprendizagem deve obter orientações específicas para que desenvolva um trabalho consciente e que promova o sucesso de todos os envolvidos no processo de aprendizagem.
De acordo com Freire (1993, p. 12) “Não existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria se dissesse que o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende”. Dessa forma pode se afirmar que enquanto se ensina também se aprende pois como disse o referido autor, ninguém é tão grande que não possa aprender e nem tão pequeno que nada tenha a ensinar.
Outra alternativa de intervenção psicopedagógica, é trabalhar com atividades lúdicas, através de jogos de maneira interdisciplinar buscando apoio em várias áreas de conhecimento e analisando a aprendizagem no contexto escolar, familiar e no aspecto afetivo, cognitivo e biológico.
Para Alicia Fernandes (2001) não pode haver construção do saber, se não se joga com o conhecimento. O jogo é um processo que ocorre no espaço transacional, de confiança, de criatividade. É o único onde se pode aprender. Através do jogo a criança expressa agressão, adquire experiência, controla ansiedade, estabelece contatos sociais como integração da personalidade e prazer.
Para Piaget (1976), o jogo na escola tem importância quando revestido de seu significado funcional, ou seja, é preciso, uma coerência entre assimilação e acomodação. Ambos os autores correlacionam o jogo para uma utilização em contextos escolares como situações psicopedagógicas.
Portanto, que cada profissional não fique com o seu olhar, defendendo posturas isoladas. Mas, apesar das divergências teóricas e/ou práticas, encontrem planos de ações interativos que auxiliem a criança na sua integridade como ser humano, sujeito de sua história para que possa interagir com o meio social como cidadão no sentido amplo.

4 Considerações Finais

É de suma importância que os profissionais da área educacional entendam que as crianças com dificuldade de aprendizagem, seja leve, moderada ou grave, precisam ser reconhecidas como seres iguais em direitos humanos e que, a especificidade da intervenção deve está de acordo com suas necessidades e possibilidades.
Deve ser levada em consideração a realidade interna e externa, procurando compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos, buscando interação entre os componentes (tarefa, criança, meio) para que a avaliação das dificuldades de aprendizagem se torne relevante, uma vez que a criança é vista como um sujeito contextualizado.
No entanto as autoras do artigo ressaltam que os problemas de dificuldades, não são impossíveis de solucioná-los, porém deve-se encará-los intervindo da melhor forma possível reconhecendo as possíveis causas das dificuldades que podem advir de fatores orgânicos ou mesmo emocionais sendo importante a descoberta a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo.


5 Referências

FREINET. C. Uma escola ativa e cooperativa. São Paulo. 2002. Disponível em http://www.novaescola.abril.com.br.

FREIRE. P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à pratica educativa. 27 ed, São Paulo: Paz e Terra, 2003.

FERNÁNDEZ, A. O Saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001
PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas: problema central ao desenvolvimento. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.
SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 2 ed. Petrópolis- RJ: Vozes. 1994.
REVISTA NOVA ESCOLA. – Set/ 2000.

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